terça-feira, 28 de outubro de 2014

Admirável chip novo

Priscilla Novaes Leone, mais conhecida como Pitty, é uma cantora brasileira de rock. Vendendo mais de quinze milhões de cópias na carreira, Pitty teve como álbum de estreia, o "Admirável chip novo", nome que surgiu após a cantora ler o famoso livro de Aldous Huxley, Admirável mundo novo


O livro escrito por Aldous Huxley é uma distopia na qual a sociedade criada era mantida sob domínio através do incentivo dos comportamentos julgados como corretos pelo Estado totalitário (diferentemente de "1984", por exemplo, onde o domínio era pela repressão). Quando o indivíduo sentia algum desconforto, incerteza ou até mesmo desânimo, ingeria uma pílula chamada "soma", que fazia a pessoa quase que imediatamente ficar feliz e conformada.

No Admirável mundo novo, a sociedade é dividida em castas e os bebês são "produzidos" em laboratórios por cientistas que vão selecioná-los para tal casta. O mais chocante é que ao mesmo tempo em que são produzidos bebês para a casta mais alta, há aqueles que são modificados e adicionadas características que o tornam imperfeitos, sendo colocados nas classes mais baixas. Ou seja, os indivíduos já nascem destinados a vitória em altos cargos ou a trabalhadores comuns. Além disso, durante o período de sono dos bebês, eles passavam por um processo chamado hipnopedia, na qual eram transmitidos a eles informações repetidamente, como a sua função na sociedade, as ideias da sua classe, etc. Ou seja, trata-se de uma sociedade de autômatos, perfeitos robôs humanos. Não era necessário recorrer à repressão ou violência, já que os indivíduos não forneciam risco de revolta ou insubordinação. Cada um era plenamente feliz com a função que exercia, já que eram condicionados a isso quando bebês. 


Um perfeito cenário para inspiração de Pitty, que versifica em sua música ideias que nos levam a pensar não somente no livro, mas na sociedade atual em que vivemos. No clipe da música percebemos que a cantora personifica um robô que acredita ser um ser humano.

Eu não sabia, eu não tinha percebido
Eu sempre achei que era vivo
 Parafuso e fluído em lugar de articulação
Até achava que aqui batia um coração
Nada é orgânico é tudo programado
E eu achando que tinha me libertado

O robô da música se mostra pré-programado a obedecer, repetindo a todo instante "sim, senhor; não senhor", demonstrando completa dominação, manipulação e falta de opinião.

 Pense, fale, compre, beba
Leia,vote, não se esqueça
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva

Com as palavras acima, vemos imperativos, ou seja, ordens vindas de alguém. No livro, vindas do Estado. Na atualidade, vindas principalmente da mídia, que a todo instante nos bombardeia com propagandas de consumo. A cada dia é lançado um novo celular, com funções diferentes, uma nova máquina de lavar, que vai reduzir o tempo de lavar sua roupa, novas geladeiras, sofás, colchões para melhorar seu sono, remédios para emagrecer, brinquedos que falam e fazem toda sorte de coisas impossíveis, roupas, sapatos, brincos, colares, ternos... As pessoas até esquecem de se perguntarem "eu quero, eu preciso, eu posso?".
Ninguém nunca se conforma com o que tem e acaba comprando tudo aquilo que não precisa, para se mostrar para quem não se importa. E as coisas mais importantes? São deixadas de lado. Esse é o papel da alienação, fazer com que você se volte para coisas que não tem um real valor e se esqueça de prestar atenção naquilo que faz alguma diferença no mundo. 

 Mas lá vem eles novamente, eu sei o que vão fazer:
Reinstalar o sistema
 

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