sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Resenha: 1984 - George Orwell



Sinopse:
 Winston, herói de 1984, último romance de George Orwell, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio de sentido histórico. De fato, a ideologia do Partido dominante em Oceânia não visa nada de coisa alguma para ninguém, no presente ou no futuro. OBrien, hierarca do Partido, é quem explica a Winston que 'só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade - só o poder pelo poder, poder puro.'

Título Original: 1984 (Nineteen Eighty-Four)
Autor: George Orwell
Páginas: 416 
                         Editora: Companhia das Letras 
                                       ★★★★★

   ATENÇÃO! Essa resenha contém spoilers sobre o livro.

 O Grande Irmão está observando você.

1984 é um romance distópico escrito por George Orwell em 1948 e publicado no segundo semestre de 1949. Juntamente com Fahrenheit 451 de Ray Bradbury e Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, os três formam a "trilogia distópica clássica". A história é ambientada na Inglaterra e vai retratar o cotidiano de Winston Smith, o protótipo do anti-herói, em um regime totalitário e repressivo. O personagem faz parte do partido exterior e trabalha no Ministério da Verdade. Num mundo onde o sexo senão para procriação é considerado crime, Winston se vê apaixonado por sua colega de trabalho Júlia. Os dois desafiam o Partido e arriscam a vida encontrando-se às escondidas e vendo-se envolvidos a uma organização revolucionária secreta. Mas antes de tudo, lembre-se, Orwell é completamente pessimista quanto ao futuro escrito. Não esperem um final feliz.

O livro é dividido em três partes. A primeira vai informar ao leitor o funcionamento do regime, sobre o Grande Irmão, os Ministérios, personagens e todo o estilo de vida daquela sociedade. A segunda é onde acontece o desenvolvimento da história e a terceira é quando as complicações começam e se chega ao clímax, e também onde ficamos conhecendo os atributos do Ministério do Amor.

O mundo e o Partido
O mundo retratado por Orwell é dividido em três grandes potências: A Oceânia (foco da narrativa e onde se desenvolve a história; fazem parte a Oceania, Reino Unido, toda a América e parte do sul da África), a Eurásia (quase toda a Europa e Rússia e pequena parte da Ásia) e a Lestásia (China, Japão, Índia e Coreia). A Oceânia é governada pelo Socing, o Partido, que controla tudo através da figura do Grande Irmão, que a todos observa e vigia. O objetivo do Partido é o poder total. "O poder não é um meio, é um fim em si mesmo".

Guerra é paz,
Liberdade é escravidão,
Ignorância é força. 
                                                                                             - Lema do Partido


A Sociedade
É dividida em três classes ou estamentos: O núcleo do Partido (o Grande Irmão e o Partido Interno, aqueles que tinham os melhores cargos e o melhor poder aquisitivo), o Partido Externo (os trabalhadores comuns como Winston, que viviam não na miséria, mas em condições bem inferiores aos membros do Partido Interno) e os Proletas (formam 85% da população e são completamente ignorados pelo Partido). 

Os Ministérios
São instrumentos do Partido para a manutenção da ordem e da firme dominação sobre os indivíduos. É onde se percebe a ideia clara do duplipensamento, pois os nomes dados aos ministérios e as suas funções são contraditórias. Há quatro ministérios: O Ministério da Paz, responsável pela guerra, é o que cuida dos assuntos referentes à guerra com um dos inimigos: ora Eurásia, ora Lestásia. O mundo vive em um estado de guerra constante, mas não necessário. A guerra aqui é usada como um artifício para manter a ordem, a dominação e o ânimo entre os indivíduos. Inclusive há os "Dois minutos de ódio" que é uma parada no trabalho para que todos assistam através da teletela propagandas que reverenciam as "conquistas e feitos incríveis" do Grande Irmão e principalmente descarregar todo o ódio existente pelos inimigos. 
O Ministério da Verdade, responsável pela transformação e modificação da verdade, é onde Winston trabalha.

"Quem controla o passado, controla o futuro; quem controla o presente, controla o passado". 


E mesmo com essa natureza alterável, o passado divulgado nunca foi alterado. Em tese. Tudo que fosse verdade naquele momento, sempre fora verdade. Essa é a ideia central do trabalho realizado nesse Ministério. Então a função dos que trabalham ali é falsificar documentos (ex: jornais, livros de literatura), jogando fora o documento que antes era a "verdade" e produzindo um novo que a partir daquele momento sempre fora a única e real versão dos fatos. Essa falsificação é realizada de maneira que comprove a veracidade dos fatos que o Grande Irmão previu ou das coisas que estão acontecendo no momento.
O terceiro, o Ministério da Pujança, responsável pela fome e pela economia da Oceânia. Ele gera boletins informando sobre como a economia vai bem, ou sobre os grandes índices de produção de alimentos, quando na verdade a situação pode ser crítica (a exemplo, um comunicado pelas teletelas sobre o agradecimento das pessoas pelo Grande Irmão aumentar para vinte gramas a ração de chocolate, quando na verdade, apenas 24 horas antes, comunicou-se que seriam cortados vinte gramas da ração. E aparentemente todos "engoliram" essa estatística sem nem pensar).
E por último, o quarto, o Ministério do Amor, responsável pela espionagem, controle e tortura. Todos aqueles que se mostram contra o Partido, os espiões das outras potências, os indivíduos espionados pelas teletelas fazendo algo contraditório, aqueles denunciados por alguém da família por estar tendo alguma atitude estranha, enfim, todos aqueles que de alguma forma representem algum foco de sedição, são levados para esse ministério. São torturados de todas as maneiras possíveis, tanto fisicamente quando psicologicamente e submetidos a lavagens cerebrais. O Partido não quer eliminá-los, mas convertê-los. A partir do momento em que alguém é levado, desaparece completamente do mundo, ou seja, todos os indícios de que aquela pessoa era "alguém" são eliminados. O nível disso é tão grande que até as pessoas que conviviam com aquele desaparecido esquecem-no, ou apenas decidem não pensar e dizer nada a respeito. É como se ele nunca tivesse existido.

A  Novafala
É o plano de nova linguagem utilizado na Oceânia que é uma versão reduzida do idioma inglês. A ideia era de que com o passar do tempo, a novafala fosse incorporada entre as pessoas, mas no momento narrado pelo livro, ela era usada apenas internamente e poucos eram fluentes. O restante da população se comunicava pelo inglês tradicional.
A novafala vai fazer várias modificações, entre elas, a extinção de antônimos e sinônimos. Por que usar "mau" quando podemos utilizar "imbom" ou por que usar "ótimo" se pode ser mudado para "maisbom" ou "duplimaisbom"
O objetivo desse novo idioma é reduzir o vocabulário e assim, impedir a capacidade das pessoas de pensar e inclusive evitar pensamentos heréticos e o crime-pensamento. Ou seja, evita-se ter pensamentos errados, afinal, como definir algo como "opressão", se aquele termo não existe? Transforma-se os significados das palavras, legitimando, por exemplo, "liberdade é escravidão". O que é escravidão? O que é liberdade se não escravidão? O que é paz? O que é ignorância? O que é revolução? Quando a novafala fosse realmente oficializada, as pessoas não saberiam o que o Partido não quisesse que elas soubessem. Sem pensamento, sem insubordinação. É o grau mais aterrorizante e assustador da alienação, e os arrepios só aumentam se nos questionarmos sobre a possibilidade disso acontecer na nossa realidade. Porque a capacidade de pensar é o que nos define como homens. E perder isso seria abdicar da nossa própria humanidade.

As teletelas
São aparelhos que funcionam ao mesmo tempo como televisor, transmitindo a todos a programação oficial: anúncios e comunicados do Grande Irmão; e também como uma câmera de vigilância, através da qual todas as pessoas são vigiadas constantemente e controladas. 
As teletelas estão em todos os lugares: nas casas dos indivíduos, nas praças, nas ruas, nos Ministérios. É interessante o fato de que elas estão presentes somente nas casas dos membros do Partido Interno e Externo. Os proletas não são vigiados nem recebem informativos do governo. Mais uma confirmação de que esse regime totalitário não vê nos proletas foco de resistência e mudança da estrutura. O governo não tem interesse em moldar a mente de quem não oferece risco ou perigo a ele. 
Pode-se dizer que Orwell tirou inspiração das propagandas de massificação nazistas e comunistas para criar as teletelas. Essa supressão da individualidade e a utilização das teletelas para moldar o comportamento que aparecem na distopia de Orwell podem ser observadas nos dias atuais. Primeiramente, e mais famoso, o programa brasileiro "Big Brother" foi no mínimo inspirado nesse contexto. Segundo, o papel da televisão como meio de formação e persuasão dos indivíduos. As propagandas que cada vez mais fomentam a vontade de consumir, as novelas e as músicas que incentivam um estilo de vida ideal, os telejornais que muitas vezes modificam a realidade a fim de convencer quem assiste... Enfim, a mídia de forma geral faz esse papel de "teletela" do século XXI.

 
Departamento de ficção
É um dos departamentos do Ministério da Verdade. É onde a personagem Júlia trabalha. Esse departamento tem por função produzir baixo entretenimento para os proletas. Há máquinas que produzem enredos de novelas, músicas, revistas e filmes pornográficos, etc.

Era um capricho e nada mais, 
Doce como um dia de abril, 
Mas seu olhar azul de anil 
Roubou para sempre a minha paz!
                                                           - Música cantada por uma proleta. 

Conclusão
1984 não é só mais um entre muitos livros na literatura. É leitura obrigatória. É comum acharmos correspondências entre o stalinismo, mas também com a Alemanha nazista. O fato é que 1984 faz referência a todo regime totalitário, como um todo. Quando Orwell o escreveu, não só a Europa, mas o mundo todo vivia na angústia de uma guerra nuclear iminente. Para um homem que presenciou os horrores de duas guerras mundiais era de se esperar certo pessimismo no futuro da humanidade retratado em seu livro. Ele não oferece um final feliz, muito pelo contrário, mergulha o leitor no mais profundo terror e angústia. Mas não sejamos nós tão pessimistas assim. 1984 não é uma obra profética, é mais um aviso nada sutil para todas as gerações futuras. Um aviso de que não podemos deixar-nos ser influenciados por maus ideais, que não podemos abdicar da nossa capacidade de julgar, de refletir, de pensar. Governos totalitários só são instalados em solos férteis, com pessoas que o legitimam. Não nos deixemos ser "solos férteis" para a propagação da opressão. Não legitimemos regimes que nos oprimem.

E por último, lembre-se: 2+2=4.

"Mas estava tudo bem, estava tudo certo, a batalha chegara ao fim. Ele conquistara a vitória sobre si mesmo. Winston amava o Grande Irmão". 

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